Introdução
O Plano
Setorial de Reduções de Emissão da Indústria (Plano Indústria) representa um
compromisso da sociedade brasileira, setor público e privado, com a promoção de
uma trajetória de desenvolvimento sustentável. O objetivo do Plano é preparar a
indústria nacional para o novo cenário futuro, que já se desenha, em que a
produtividade-carbono, que equivale à intensidade de emissões de gases de
efeito estufa por unidade de produto, será tão importante quanto a
produtividade do trabalho e dos demais fatores para definira competitividade
internacional da economia. Para tanto, será necessário estabelecer sistemas de
gerenciamento de emissões de gases de efeito estufa da atividade industrial
como ferramenta de melhoria da competitividade, num processo semelhante ao
ocorrido com a implantação dos sistemas de gestão ambiental no passado.
O Plano
Indústria se sustenta em três pilares:
(i)
Implantação gradual de um sistema de medição, relato e verificação (MRV) das
emissões de gases de efeito estufa da atividade industrial.
(ii)
Plano de Ação com conjunto de medidas e instrumentos de incentivo à redução de
emissões.
(iii)
Criação de Comissão Técnica do Plano Indústria - CTPIn, composta por
representantes do governo, indústria, sociedade civil e meio acadêmico,
responsável pelo detalhamento das ações do Plano, monitoramento e revisão
periódica.
O Plano
Indústria adota como referência a meta de redução de emissões de processos
industriais e uso de energia no setor industrial de 5% em relação ao cenário
tendencial projetado para 2020. O papel da meta é estimular a melhoria da
eficiência dos processos industriais e não coibir o crescimento econômico.
Em
síntese, o Plano Indústria objetiva garantir a continuidade do desenvolvimento
competitivo do Brasil e preparar o setor para enfrentar os desafios da Mudança
Climática. Para isso, adotará as seguintes estratégias, que serão definidas em
detalhe no âmbito da CTPIn:
» Criar
as condições técnicas, institucionais e financeiras para que todos os segmentos da
indústria, que serão progressivamente incluídos no Plano, possam realizar, a partir de
seus inventários corporativos, a gestão do carbono sob regime de MRV.
»
Promover a difusão de equipamentos e práticas que aliem competitividade e sustentabilidade
através da eficiência no uso de energia e de materiais.
»
Desenvolver políticas específicas para os setores responsáveis pelos maiores
volumes de
emissões incluídos no Plano, que garantam sua competitividade internacional em termos
de emissões de GEE por unidade de produto.
»
Fomentar a inovação e a capacitação, tanto no setor público quanto no privado, requeridas
para as três estratégias anteriores.
Meta de Redução de Emissões
A
atividade industrial contribui para o aumento da concentração de gases de
efeito estufa
(GEE), principalmente devido ao consumo de energia gerada a partir da queima de
combustíveis fósseis (combustão) e às emissões dos processos de transformação
de seus insumos em produtos (processos industriais). Em 2005, de acordo com a
Segunda Comunicação Nacional, as emissões decorrentes do uso de energia pelo
setor industrial foram de 78,83 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2 eq), enquanto que as emissões de processos industriais totalizaram 77,19
MtCO2 eq. O cenário tendencial foi projetado
considerando taxa de crescimento de 5% das emissões a partir de 2005, de acordo
com a metodologia do Decreto 7.390/2010. O resultado da projeção foi uma emissão
total de 324, 38 MtCO2 eq.
O Plano
Indústria estabelece inicialmente como meta de emissões globais para o setor industrial em 2020, redução de 5% desse valor projetado, o que equivale
a 308,16 MtCO2 eq. Essa meta se aplica exclusivamente ao volume total de emissões do
setor industrial. A eventual revisão desse valor e o possível estabelecimento
de metas de redução de emissões por setor ou por empresa, ocorrerão durante as
revisões periódicas do Plano Indústria, ao longo dos próximos anos. Esse
processo de revisão serão fundamentados tecnicamente pela CTPIn, considerando
as ações referentes à mitigação de emissões de GEE pelas empresas. Caberá à
CTPIn definir o método de contabilização dessas ações, com base em um cenário
de referência que leve em consideração as especificidades de cada setor.
Essa meta inicial visa estimular a adoção de sistemas de MRV para a
gestão de emissões, ao mesmo tempo em que procura salvaguardar os interesses
nacionais e os objetivos das políticas de desenvolvimento social. O governo
entende que o Brasil, como país em desenvolvimento e de industrialização
tardia, não deve assumir um ônus desproporcional a sua responsabilidade
histórica no aumento das concentrações de GEE na atmosfera e as suas
capacidades, consoante o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”,
base do regime internacional de combate às mudanças climáticas, consignado na
Convenção-Quadro.
Por outro
lado, os compromissos voluntários do Brasil apresentados na Conferência das
Partes realizada em Copenhague (COP-15), em 2009, bem como os desdobramentos nacionais
consubstanciados na Política Nacional de Mudança Clima (PNMC), indicam que as
reduções de emissões por parte da Indústria de Transformação não são
necessários para o cumprimento desses compromissos. Isso se deve ao fato de que
é possível atingir uma redução de até 40% das emissões em relação à projeção de
2020, superando portanto o compromisso nacional voluntário de 36,1% de redução
prevista na PNMC, apenas com as reduções previstas nos planos setoriais
finalizados em 2010 (Decreto 7.390/2010). Nesse sentido, os esforços do setor
industrial para a redução de emissões de GEE devem ser balanceados de acordo
com o grau de responsabilidade da indústria sobre as emissões globais do Brasil
e concentrar-se nos setores nos quais há o melhor custo de oportunidade para o
País reduzir suas emissões.
O
cumprimento dessa meta impõe um desafio para a sociedade, pois não se dispõe no momento
de instrumentos de medida suficientemente precisos para orientar as políticas nacionais
de redução nem subsidiar o processo de negociação internacional. A diversidade das
plantas industriais em termos de produtos, de porte e de atualização
tecnológica exige estimativas de emissões mais desagregadas do que aquelas
incorporadas aos Inventários Nacionais e que levem em conta as especificidades
de cada setor. Não é por outra razão que um dos principais objetivos deste
Plano Indústria é justamente a criação das condições para a fixação de metas em
regime de MRV.
Panorama do Setor Industrial
Tomando
como referência o dióxido de carbono, principal GEE, a Indústria de Transformação
foi responsável por um décimo de suas emissões no Brasil em 2005. As emissões diretas dos processos industriais (65,5 milhões de toneladas de
CO2) e da
queima de combustíveis fósseis (75,6 milhões de toneladas de CO2) representaram 8,6%, do total de emissões de
GEE aos quais se somam pouco menos da metade das emissões oriundas do Subsetor
Energético (22,7 milhões de toneladas de CO2).
O Plano Indústria propõe um conjunto de ações do setor público que, em
consonância com os compromissos do setor privado, procurarão reduzir em termos
relativos esse conjunto de emissões através do reforço de iniciativas em curso
de racionalização do uso de energia e de matérias-primas, bem como da criação
de novas políticas. Prevê, também, a articulação com outras políticas do
governo federal, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Plano Brasil
Maior, bem como os demais Planos setoriais da PNMC.
Por outro lado, tanto no que se refere às emissões diretas quanto
àquelas oriundas do Subsetor Energético, poucos setores industriais concentram
a maior parte das emissões de GEE. Em função disso, o Plano Indústria propõe
que, numa primeira fase, os setores que são responsáveis pela maior parte das
emissões sejam focalizados de forma particular. Eles serão objeto de
institucionalização célere de regime de MRV, assumirão compromissos setoriais e
serão contemplados por instrumentos customizados de fomento à eficiência de
emissões.
Ao longo dos processos de revisão do Plano, outros setores, sempre pelo
critério de participação nas emissões, serão progressivamente incorporados de
modo a abarcar toda a Indústria de Transformação no horizonte do ano 2020, num
programa abrangente de competitividade e sustentabilidade.
Considerando o estabelecido na Lei 12.187/2009 que criou a PNMC,
propõe-se incluir inicialmente os seguintes setores:
»Alumínio
»Cal
»Cimento
»Ferro-gusa e aço
»Papel e celulose
»Química
»Vidro
Em
conjunto, eles foram responsáveis, em 2005, por quase 90% das emissões diretas de
GEE da Indústria de Transformação, e por mais da metade das emissões derivadas da
queima de combustíveis fósseis na indústria. Em 2009, o peso destes setores no
Valor Bruto da Produção industrial foi de aproximadamente 19%, embora inclua
apenas pouco mais de 5% das empresas industriais.
Objetivos
O
principal objetivo do Plano Indústria no período 2012-2020 será a manutenção da eficiência
em emissões específicas dos setores que estão em boa posição na comparação internacional,
a criação de estrutura para monitoramento, relato e verificação de emissões de
GEE, com a institucionalização dos inventários de emissões em todas as empresas
de médio e grande porte dos setores abrangidos pelo Plano, bem como a
implementação de ações transversais de eficiência energética e de uso de
materiais para promover reduções de emissões com ganhos de competitividade em
toda a indústria.
O Plano
Indústria realizará estudos de linhas de base e cenários tendenciais de emissões,
levantamento de tecnologias sustentáveis e oportunidades de mitigação nas
cadeias produtivas dos setores considerados, e estabelecerá canal permanente de comunicação
entre indústria e governo para identificar obstáculos à melhoria de gestão de carbono
e medidas para superá-los. A partir do estabelecimento dessas pré-condições
será possível estabelecer e verificar metas precisas por GEE, setor e empresa e
assim preparar a indústria para o cumprimento de metas quantitativas de redução
de emissões após 2020.
O Plano
está organizado em cinco eixos de ação: gestão de carbono; reciclagem e co-processamento;
eficiência energética e cogeração; ações voluntárias de mitigação; e tecnologias
sustentáveis.
»Institucionalizar a gestão de carbono na indústria
em duas linhas de ação paralelas. De um
lado, o eixo gestão de carbono engloba um conjunto de medidas para criar a
infraestrutura para monitoramento, relato e verificação de emissões, tais como a criação
de banco de dados de fatores de emissão e capacitação técnica para coleta de
dados. De outro lado, as empresas dos setores contemplados no Plano deverão
realizar inventários corporativos de emissão anuais, sendo que os setores de
Cimento, Alumínio, Papel & Celulose e Química farão a partir de 2013 (ano
de referência
de 2012) e os setores de Vidro, Cal e Siderurgia a partir de 2014 (ano de referência
2013). As empresas médias e pequenas terão condições especiais para realizar
seus inventários, conforme regulamento a ser criado.
»Promover o aumento da reciclagem e o aproveitamento
de coprodutos: o objetivo desse
eixo é promover iniciativas voltadas para integração entre a Política Nacional de
Mudança Climática (PNMC) e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), superando
barreiras regulatórias para o processamento de resíduos sólidos industriais e
urbanos e estabelecendo tratamento tributário diferenciado para produtos
reciclados.
»Promover a eficiência energética e a cogeração na
indústria: segundo levantamento da
Empresa de Planejamento Energético (EPE), há significativas oportunidades para
melhoria da eficiência energética em diversos setores da indústria. Nesse sentido,
o governo federal está elaborando um Plano Nacional de Eficiência Energética
(PNEf) para implementar ações específicas visando as metas de melhoria da
eficiência energética do Plano Decenal de Energia (PDE). O Plano Indústria estabelecerá
sinergias com o PNEf e buscará fomentar a cogeração na indústria. Além
disso, a Resolução Normativa nº 482 da ANEEL, de 17 de abril de 2012, estabelece
condições gerais para o acesso a microgeração e minigeração distribuída aos
sistemas de distribuição de energia elétrica e o sistema de compensação de energia
elétrica, sendo importante instrumento para o apoio ao desenvolvimento de energias
renováveis no setor e das iniciativas de melhoria da eficiência energética.
»Fortalecer as iniciativas voluntárias de
associações e empresas do setor privado para
redução de emissões: O Plano Indústria desenvolverá ações de apoio a iniciativas
voluntárias do setor privado para redução de emissões seja no âmbito de
mecanismos de mercado como o MDL, seja mediante programas voluntários de redução
de emissões.
»Facilitar o desenvolvimento e a disseminação de
tecnologias sustentáveis: O desenvolvimento
e a disseminação de tecnologias sustentáveis adaptadas para as condições
específicas da indústria nacional são condições para a consolidação da produção
de baixo carbono e a melhoria constante da intensidade específica de emissões
da indústria.
Monitoramento
Será
criada Comissão Técnica do Plano Indústria (CTPIn), composta por representantes dos
setores público e privado, responsável pelo detalhamento e monitoramento das ações,
revisão periódica do Plano e encaminhamento de demandas específicas relativas à
implementação das ações do Plano para os órgãos da Administração Pública
pertinentes.
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